Fotografia para deficientes visuais

O Vagner ( http://zmaro.com.br/programas/nv/pup_materias_entrevistado.php?IDENTREVISTADO=746) me ligou e enviou a sugestão, então ai vai: Quais as dicas e se existe como: fotografia para deficientes visuais.

Deixe seu comentário e ajude a montar esta pauta.
Até o momento tenho:


Escola de Fotografia para Cegos de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Ideia do fotógrafo Nauro Júnior







Gostaria de saber sua opnião, comentários, experiências e o que mais tiver sobre este assunto. Se tiver uma sugestão de pauta, pode deixar no comentário. Note que você pode postar anonimamente. O assunto abordado deste post será gravado no Programa Zmaro na TV, que é um programa semanal que esta em 20 emissoras de tv pelo Brasil, no youtube em www.youtube.com/zmarosobrinho, no site www.Zmaro.com.br e outros canais. Participe! Colabore com o Programa Zmaro. Obrigado! 8-)


Abaixo texto que recebi do site deficienciavisual: I congresso online internacional de inclusão e reabilitação da pessoa com deficiente visual.

Prof. João Kulcsár

O título desta apresentação é  fotografia e deficiência visual, por que não ?

Tenho mestrado em artes pela Universidade de Kent, Inglaterra,1996/7, como bolsista do The British Council. Fui professor visitante na Universidade de Harvard 2002/3, como bolsista da Comissão Fulbright. Professor do Senac-sp desde 1990. Curador de exposições fotográficas no Brasil e no exterior. Autor de diversos livros como Herança Compartilhada e Retratos Imigrantes. Editor do site www.alfabetizacaovisual.com.br

Histórico

O projeto de fotografia para pessoas com deficiência visual teve início em março de 2008, no Senac-SP e foi desenvolvido com a metodologia da alfabetização visual, que capacita alunos para atuarem como educadores em projetos socioculturais de maneira refletiva, consciente e crítica.
As aulas são semanais de fevereiro a dezembro,
Esta apresentação é resultado da pesquisa  de professores e alunos, apresentações de TCC, relatórios produzidos durante este período de 8 anos.
Não existia no mundo experiência desta natureza um curso de longa duração.
COMO os def visuais fotografam ?
A pergunta é  POR QUE ELES FOTOGRAFAM – pelas mesmas razoes que todos os videntes
Para registrar um instante e para mostrar para os outros.
Clodoado – aluno na primeira turma – tinha dois sonhos – 01 fotografar e o segundo era dirigir , na época falamos que o segundo era muito difícil, mas hoje percebemos que não é, pois existem carros que andam sozinhos –
Dei este curso em vários cidades no  brasil e no exterior ( Estados unidos, México, Portugal, Itália , suíça, Inglaterra)

“Eu não acho que ficamos cegos. Acho que somos cegos. Cegos que podem ver, mas não veem”. Personagem do livro Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago. Diariamente, os limites da humanidade e da civilização são rompidos, mas parece que não queremos enxergar. Será que todos nós estamos ficando cegos?, diz Saramago.
Ao dispararem o botão da câmera, focando a acessibilidade, pessoas com deficiência visual propõem uma discussão sobre a questão da técnica e da estética fotográfica, além de transformar o ato de fotografar num ato político que nos faz repensar o conceito de cegueira. Afinal, você vê, enxerga ou também tem deficiência visual?


Produzimos exposições em várias cidades no Brasil e exterior
Atualmente temos a mostra São Paulo cidade (in) acessível no Sesc Campinas
As fotos desta exposição apresentam a cidade por vezes acessível e por vezes
inacessível foram feitas por alunos do projeto deficientes visuais e servem como uma reflexão para discutir a cidade que queremos.

E na Pinacoteca
Desenvolver uma exposição fotográfica acessível das fotos produzidas
durante o curso de fotografia para e com pessoas deficientes visuais na
Pinacoteca do Estado de S. Paulo. O curso, dividido em três módulos, se propõe por meio de didáticas multissensoriais o desenvolvimento das formas de expressão e a reflexão dos participantes e assim expandir seus canais de comunicação.

Metodologia
Como proposto por Freire em Pedagogia da Autonomia, a base do projeto acredita no desenvolvimento de possibilidades para uma própria produção e construção dos conceitos abordados. O papel do professor atua na fase de fomentação e difusão das ideias; agindo como mediador entre a necessidade do aluno e melhor apresentação do recurso de ensino, pois cada participante é único e tem suas necessidades teóricas e práticas.
  
“O homem superou limites e coisas que jamais pensava poder ser superadas. Quando você fotografa e não tem que pedir para outra pessoa fotografar para você, acaba criando autonomia”, comenta Clodoaldo.

Com esse comentário, Clodoaldo não só sublinhou o grande potencial do curso em devolver confiança, autoestima e independência no dia a dia dos alunos envolvidos, mas também destacou a importância de romper com os estereótipos impostos pela sociedade, desmistificando a condição de impotência que muitos deficientes visuais são submetidos. Cada encontro foi preparado na intenção de corresponder às expectativas, desbravando o “desconhecido”, já que tudo era novidade para todos os envolvidos.
No primeiro ano desta iniciativa ficou evidente que, acima de tudo, o programa envolve o tripé estético, técnico e ético, de metodologia participativa, conquistada colaborativamente, com auxílio de muitas mãos.

​Uma das técnicas que mais influenciam os alunos é o light painting, que literalmente significa, pintar com a luz. Esse recurso permite produzir imagens em locais de pouca ou nenhuma luminosidade, com auxílio de objetos que emitam luz, como: lanterna, celular, laser etc, o fotógrafo tem total controle da situação e pode assim, desenhar a cena da forma como desejar.


PORQUE FOTOGRAFAR?

Criar possibilidades sobre a própria fotografia. No filme  Janela da Alma Evgen Bavcar afirma que “não devemos falar a língua dos outros e nem utilizar o olhar dos outros, porque nesse caso existimos através do outro. É preciso existir por si mesmo.”

Vivemos numa sociedade totalmente imagética, repleta de informações visuais, todo tempo somos impulsionados a fragmentar, eternizar de forma fotográfica as experiências vivenciadas. Através da tecnologia somos capazes de fazer fotos e compartilhar com amigos, familiares e desconhecidos de forma instantânea. Pessoas com deficiência visual não estão desprovidos das percepções sobre seu cotidiano, mesmo sem a visão continuam a formar inúmeras imagens.

Nos encontros sempre ouvimos relatos das experiências dos participantes sobre sua relação com a fotografia. É pensando assim, que histórias contadas por eles, vivenciadas diariamente nos levam entender melhor “porque não fotografar?”

​Não podemos generalizar que toda pessoa cega não tem autonomia. Desejar fotografar então já não é uma questão de poder ou não poder e sim de querer ou não querer. Alguns deles querem, e cada vez mais proporcionam admiração pela materialização exterior de seu olhar interior.

A fotografia é um fragmento representativo, um recorte do que designamos como real. O aparelho fotográfico não é mais do que um acessório técnico com o qual tentamos exprimir nossa situação existencial. Pensando nisto, a construção de uma imagem através do aparelho fotográfico está diretamente relacionada ao que aquele momento proporciona, não exatamente e exclusivamente relacionado à visão.

Segundo Evgen Bavcar em A luz e o cego, o olhar físico que quer ver não é o olhar da verdade, pois a veracidade de uma presença só pode ser confirmada através do toque físico. Somente o tato é o mais seguro sinal de uma existência real. Pode-se dizer que todos os sentidos (tato, olfato, paladar, audição) e não somente a visão, são importantes para compor um repertório imagético. É o abraço de alguém que faz lembrar de algo que passou, um perfume, uma comida, uma música...

Ana Claudia.  Diz “Busco uma imagem ampla para trazer o máximo de informações possíveis, busco a essência, um ponto focal. Por exemplo: Fotografar uma borboleta e poder descrever aquela imagem. Quantas informações, sobre cores, texturas, composição. Sou muito intensa em emoção, e eu uso a fotografia para criar esse diálogo. Hoje posso dizer que a fotografia me tornou outra pessoa.”



METODOLOGIA

“A gente só escuta pessoas que não acreditam na gente, que perguntam, ‘Cego tirando foto? ´Que é isso?’”, comentou a aluna Débora. Esta pergunta não há dúvida, é a mais recorrente para todos os alunos e educadores do projeto. Em diferentes contextos, quando se fala em fotografia com deficientes visuais, surge o mesmo questionamento: Como é que alguém que não enxerga consegue fazer uma foto?

Ao longo dos anos, percebemos que não existe uma única resposta para essa pergunta, senão várias, porém, temos consciência de que não sabemos tudo. A cada aula é uma barreira a ser vencida. As fotografias dos alunos, neste caso, são provas imagéticas e tangíveis da possibilidade do fazer fotográfico.
 “Como a gente não tem a orientação visual, a gente tem que expressar um olhar de dentro,” - explica o aluno João Batista.  “A fotografia é antes de tudo imaginar a imagem na cabeça, e depois fazer o click.” Completa João.

FOTOGRAFIA PARTICIPATIVA

O conceito de Fotografia Participativa tem sido usado por várias entidades pelo mundo. Apesar da fotografia ser naturalmente uma atividade colaborativa, este termo tem como objetivo se munir da atividade fotográfica como instrumento de comunicação visual para promover, fomentar e propagar ideias de abordagem ética, social e ideológica. É uma forma de “voz ativa” na sociedade ao seu redor, entre familiares, amigos, comunidade e etc. No curso há um espaço para suscitar novas iniciativas que beneficiem os próprios alunos. Como por exemplo, a mostra feita por eles com fotos sobre, Acessibilidade. Um misto entre denúncia e reconhecimento sobre espaços acessíveis e inacessíveis na cidade de São Paulo.

“Essa relação de ensinar e aprender de forma participativa permite ver o crescimento e amadurecimento dos meus amigos. Assim como eu, eles estão conhecendo coisas novas e reconhecendo suas limitações. Juntos trocamos experiências boas e ruins, entendemos a necessidade do outro e nos ajudamos mutuamente.” Lelo Araújo.


FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

Durante o processo de estruturação do curso, como tudo era novidade, notou-se a necessidade de entender melhor a realidade da vida de um deficiente visual e como tornar acessível os recursos visuais da câmera, descrição das imagens, literalmente uma imersão neste “novo” mundo.
Além da experiência e do trabalho já desenvolvido pelo espaço braille no campus Senac São Paulo, conhecemos outras ações de programas educativos voltados para este público, como Laramara, Dorina Nowill, Museu do diálogo e Pinacoteca do Estado.
Visitar esses lugares foi extremamente importante para formação pedagógica e pessoal dos professores.


ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE

“As pessoas videntes, às vezes, não percebem o mundo ao seu redor. As pessoas tem medo da proximidade com o deficiente, de não saber como lidar.” Diz a aluna Bernadete Moraes.

Os educadores do projeto fazem formação de orientação e mobilidade para trabalhar melhor com as pessoas deficientes. 

COMO PRODUZIR IMAGENS?

Esta é uma curiosidade comum entre todos, até mesmo dos alunos que se interessam pelo curso.
“Fiquei com muita curiosidade...”, falou, “até fiquei sem dormir essa semana querendo saber como é que vamos conseguir fotografar. Vamos conseguir o foco? Como é que vamos saber o que é que estamos fazendo?” Disse Silvan, aluno, no seu primeiro dia de aula.
Com apoio de materiais pedagógicos o aluno é levado ao mundo das referências fotográficas. Esses materiais são táteis, em alto relevo e ajudam a compor o repertório imagético, na idealização na hora da produção e na descrição.

Com a prática o aluno acaba criando o seu próprio jeito de fotografar e de se localizar no espaço seja para produzir imagens de pessoas, objetos ou autorretratos.

COMO DESCREVER AS IMAGENS PRODUZIDAS?

A partir de pesquisas, leitura de referências e através do que vem sendo usado em sala de aula desde o início do curso, pode-se dizer que foram integrados dois métodos para descrever as imagens, são eles: descrição e audiodescrição.

Um dos recursos aliados a descrição é a sensibilização através do material pedagógico (um conjunto de imagens de vários fotógrafos em alto relevo, com diferentes texturas). Quando vamos falar sobre novas referências na fotografia é feita uma aplicação de cola alto-relevo ou materiais com diversos tipos de textura, como: papel veludo, pedaços de madeira, algodão, caroço de arroz e etc., para que ao falar, descrever, determinada imagem, o aluno consiga ter uma percepção maior, mais “palpável” do conteúdo, usando o tato.
O professor/educador descreve a imagem e o aluno pode senti-la ao passar os dedos sobre o papel.
  

Como descrevemos
Durante o curso fez-se necessário a adaptação e criação de novas abordagens para se descrever as imagens. Os alunos não podem produzir sem saber o que é, e como está sendo feito. Faz parte do processo de ensino participativo a construção dos resultados de modo coletivo.
As descrições produzidas são livres, mas abaixo em ação conjunta em sala de aula foram delineadas questões norteadoras para auxiliar na produção e adaptação de cada descritor. Assim, qualquer pessoa poderá fazê-lo!
  
Abaixo lista elaborada pelo grupo para auxiliar a descrição:

• Formato:
• Colorida ou preto e branco
• Qual é área da fotografia: retrato, paisagem, still (objeto), arquitetura
• Principal(ais) objeto(s) da cena
• Proporção do(s) objeto(s) no quadro
• Plano:
etc


Em exposições
A produção do material contou com a ajuda da Audiodescritora Lívia Motta uma das organizadoras do livro: Audiodescrição – Transformando imagens em palavras.


EXPOSIÇÕES

"Somos o que fazemos, mas somos principalmente o que fazemos para mudar o que somos." Eduardo Galeano

O termo exposição vem do latim – exponere – isto é, por para fora, entregar à sorte. É um processo de experimentação que só se saberá o resultado a partir do momento em que este material é apresentado ao público. As exposições produzidas no projeto tiveram e tem o objetivo divulgar o curso, mostrando a forma como cada aluno percebe o mundo.
Cada mostra oferecida foi desenvolvida para mostrar de forma crítica e pontual opiniões sobre determinados assuntos.
Produzimos mais de 12 exposições, como por exemplo: Percepções do visível (2008), Acessibilidade (2009), Estética do Invisível (2010), Calendário (2011), Paralímpicos (2013) e Olhar a toda prova (2013). Tranver, Sp Cidade ( in) acessível,


Nas exposições temos cópias em alto relevo, audiodescrição, código QR e legenda em braille, algumas piso tátil, além de visita guiada por todo o espaço.

Planejamos um curso EAD ( educação a distancia, para o ano de 2016 no site
www.alfabetizacaovisual.com.br.

Convido novamente a visitar a mostra  Transver , fotografia feita por pessoas deficientes visuais até março de 2016 na pinacoteca de são Paulo.
Segue abaixo fotografias e descrições da Bia Santana e Eber Anacleto desta mostra.


Obrigado e parabéns ao organizadores e participantes do congresso.

Site e Facebook – alfabetização visual
João Kulcsár


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